[#40] A INTELIGÊNCIA ACIMA DA “MÍDIA” E A ORIGEM DA CONFUSÃO

LucianoNavarro_LuNOB (ישי)
7 min readJun 7, 2021

*Luciano Navarro Orenstein Bueno

Image #1. Merakist — Unsplash

Enquanto houver descontentamento e reclamação maiores do que ações individuais-coletivas que sejam positivas e construtivas não haverá espaço para a luz durante o “túnel” que atravessamos juntos ou uma visão de melhoria.

Há momentos claros como o de agora que nos lembram que nem sempre haverá uma luz no final do túnel, e expõe que a luz somos nós. Ou fazemos algo “por nós” ou algo será feito “de nós”.

O FOCO NO CAOS: A INFOTOXICAÇÃO

A plenitude visionária de alguma solução é descendente genuína da unificação de nossas inspirações e decepções históricas, da fusão pacífica de todo o sistema na altura dos acontecimentos — no gerúndio das coisas acontecendo. Não há porque focar somente ou exageradamente no caos ou nos defeitos da humanidade de forma contínua e massivamente distribuída. Já se perguntou o por que disso? De tanta infotoxicação ou da fadiga informativa? Por que não incluir de maneira mais presente e dar também um holofote microscópico as virtudes e ações humanas de esperança e regeneração? Por que tanto foco no que é negativo, depreciativo e desastroso?

O que está havendo de fato com as nossas lideranças? O que está havendo conosco e a nossa capacidade de auto-liderar?

Cito “Rosabeth Moss Kanter, da Harvard Business School, que escreveu em seu livro Confidence : “Liderança não tem a ver com o líder, mas como ele constrói a confiança de todos”. [1]

O quanto a nossa confiança está sendo minada e colocada em transe?

Confiança é a palavra chave nesse processo todo, vem do latim e significa “ter fé juntos”.

Mas como ter fé juntos se estamos tão separados por toda essa fadiga de informações e visões tão aparentemente polarizadas?

Trago Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês e professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia, que pode lançar algum insight de como compreender melhor esse tempo:

“Quanto mais contatos adicionamos, mais amigos perdemos. Quanto mais mensagens trocamos, menos diálogos temos.”

Nesse contexto da construção da confiança entre todos, “prefiro a palavra “esperança” a “otimismo”. Otimismo é a crença de que as coisas vão melhorar; esperança é a crença de que juntos podemos melhorar as coisas.” [1]

“prefiro a palavra “esperança” a “otimismo”. Otimismo é a crença de que as coisas vão melhorar; esperança é a crença de que juntos podemos melhorar as coisas.”

Ainda é possível dar créditos a construção coletiva a partir de um bom diálogo. Daquele real, presente e focado onde se ouve uma voz humana que veio de um coração sincero transferida num olho no olho, coração com coração. É de um poder transformador inestimável.

Ainda sobre “otimismo e esperança” é como preferir a harmonia ao invés do equilíbrio.

Equilíbrio é algo semelhante as gangorras paradas, estáticas e sem movimento é quando dizemos que estão em equilíbrio, ou seja, o peso de um lado não é superior ao peso do outro. Por outro lado perde-se o movimento. Já na imagem da harmonia suscita a ideia de um movimento vivo de uma vida sistêmica integrada e interagindo em convivência e desenvolvimento regenerativo com todas as suas relações. Pressupõe a dinâmica inteligente de um movimento vivo, embora possa ter conflitos o movimento se mantém construtivo.

A ORIGEM DA CONFUSÃO

Percebo que toda origem explica o presente, que toda a fonte mostra o percurso e a gênese de desenvolvimento e continuidade, retrocesso ou declínio do que está sendo visto. Agora mais especificamente olhemos para a origem do caos na visão universal da milenar sabedoria da kabbalah:

A fragmentação abriga o caos que significa em hebraico Tohu: dúvida e confusão. As dúvidas e as confusões são filhas da ignorância que apresenta pouca vontade em descobrir a verdade. Geram e replicam pré-conceitos enraizadas fragilmente numa cultura de mídia delivery digitalmente personalizada são os principais entraves e atrasos dessa vida que deveria ser mais intensamente real e comunitária. E menos distante e digitalizada por selfies e lives.

UMA INTELIGÊNCIA ACIMA DA MÍDIA

Há três formas práticas [2] de sobrepujar a nossa própria inteligência comum tal como é percebida e manifestar uma inteligência acima do que vemos na mídia. O que não significa excluir de forma guerreira, militante (militante, do Latim “militare” que significa ser soldado, ser militar), combativa ou impositiva o nosso ponto de vista, mas saber o que e como filtrar o que realmente se quer aderir e fomentar como valores e princípios universalmente pacificados.

1. REFLEXÃO MEDITATIVA

Por meio da reflexão meditativa, uma forma tranquila de se elevar os princípios inferiores ou ainda não maduros para uma nova consciência. O silêncio meditativo abre espaço a contemplação para a chegada e permanência criativa de uma energia genuinamente nova, restaurativa e terapêutica.

2. ESTUDOS

Quando estudamos livros que tenham uma elevada sabedoria de ideais nobres nos tornamos igualmente elevados. Um estado de êxtase amoroso nos traz uma inspiração consciente da colocá-los em prática em coerência com o objeto estudado. Ao ponto que não temos escolha ao não ser fazer algo melhor, por outro lado, não fazê-lo traria certa angústia, sensação de vazio ou perda de tempo.

3. AUTO-OBSERVAÇÃO

Seu principal objetivo é transformar ou transmutar a mente, as emoções e as ações, e espontaneamente de forma mais livre e autêntica construir o nosso caráter.

E nessa caminhada de busca de reaproximação de si para si, e de si para os demais é importante desfragmentar — juntar fragmentos de nós em um único lugar (o ser), e ser flexível ao ponto de termos um intelecto aberto na medida de saber escolher o que acessar e ao mesmo tempo ter um coração compassivo em estado de prontidão. Saber receber para poder ajudar.

#01. Osvaldo Condé — Palestra “A Sabedoria da Unidade nos Irmão da Sinceridade”, texto atribuído a Irmandade dos Irmãos da Pureza — Basra ano 1.000. Ver https://www.youtube.com/watch?v=ChL6y8NBYaM

Se ainda não vivemos a verdadeira paz é por que ainda refletimos o medo de viver em harmonia, pois traz novas responsabilidades e mudanças profundas de proceder que nem sempre estamos seguros de praticar ou mesmo dispostos a construir muita vezes do ponto zero. Mas sabemos o que queremos e a construímos por passos pequenos — o que é motivador em certa medida e em outra, é uma porta que pode ser aberta ainda mais.

A verdade é a paz

Impossível falar sobre a mídia e confusão e não falar sobre a verdade. A verdade como retrato fiel da pureza de sentimentos, de comportamentos sinceros e da honestidade de pensamentos, a verdade subjetiva ao intelecto e o que acontece numa realidade mais concreta. A verdade, assim como a felicidade é a coerência entre o pensamento, a fala e a ação. A verdade é algo tão sublime que nesse sentido se estende ao que também é a felicidade. E por consequência transcendente, a paz.

Ela não exclui nada e ninguém, ela é e mostra a realidade transparente do que é. Não há julgamentos, apenas observação do que é real. E a realidade não está nos olhos de quem vê, mas de quem descobriu ver a verdade seminal que antecede a visão: honestidade e pureza de pensamentos e sentimentos, comportamento sincero e coerência.

Nesse aspecto a palavra “verdade” em hebraico que se escreve אֶמֶת “Emet” ganha uma ressonância significativa de bela relevância. Emet (verdade) é formado na sua escrita pelas letras (da sua direita para a sua esquerda) Alef que é a primeira letra do alfabeto hebraico (formado por 22 letras), em seguida o Mem que é a décima primeira letra do alfabeto, ou seja, fica bem no meio do alfabeto, e por fim, a letra Tav, a última letra do alfabeto hebraico. Ou seja a verdade (Emet) é verdade no início, no meio e no fim.

DOIS ESTADOS DA VERDADE INTERIOR: UM FRAGMENTA E O OUTRO UNIFICA

Para finalizar, inspirada numa visão meditativa judaica existem dois estados de compreensão que levam a uma verdade interior, o Tohu e Bohu.

O "Tohu" termo hebraico que significa “caos, a origem do mal”. Que é o “estado fragmentado, uma ilusão de que é separado” é o estado temporário do que pode ser ou potencial do que pode “vir a ser”. É uma visão que confunde, gera dúvida e engana. Poder destrutivo.

E "Bohu" significa retificação que é a visão completa e sistêmica que encerra um conceito completo e compreensível.
É o vazio criativo maduro e receptivo que recebe a verdade da visão que não exclui, mas transmuta o que recebe em luz. Em outras palavras é como a luz de cor branca que não é composta de duas ou três, mas da unificação de todas as cores visíveis. Poder regenerativo.

Enquanto o primeiro traz dúvida e confusão (Tohu), o segundo (Bohu) traz compreensão e verdade pela unificação e a consciência da não separatividade, e o poder regenerativo.

A verdade de nosso vazio interior pode estar em um desses estados de Tohu ou Bohu, o importante é saber que Bohu é a origem da paz que antecede a própria verdade. A atenção maior deve ser dada a ele.

*Luciano Navarro Orenstein Bueno é administrador de empresas, pós-graduado em Gestão Estratégica e Liderança. É Manifestador & Co-criador de Realidades Regenerativas, Founder da LuNOB Desenvolvimento Humano, Emet Neshamah (Verdade de Alma) e Cocriador do Movimento A Ponte e da Caminhada Contemplativa: Silêncio, Conexão e Natureza (IMC — Imersão Meditativa de Contato)

[1] Inspirado nos pensamentos de Rabi Lord Yonathan Sacks ZL” (De Bendita Memória)— Rabino Chefe do Reino Unido. Trecho da Parasha Shelach. Ver https://rabbisacks.org/shelach-lecha-5781/

[2] Com base no texto “Os ideais em nossa vida” de Valéria Marques de Oliveira. Revista Sophia — Ano 18 n. 83, pág. 08.

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LucianoNavarro_LuNOB (ישי)

Esquizoanalista em “composição”, Manifestador & Criador de Realidades Regenerativas, LuNOB Des. Humano, Caminhada Contemplativa e Movimento A Ponte